
Os aminoácidos de cadeia ramificada, popularmente conhecidos como BCAAs, sigla derivada de sua designação em inglês Branched Chain Amino Acids, compreendem 3 aminoácidos essenciais: leucina, isoleucina e valina, encontrados, sobretudo em fontes protéicas de origem animal (HENDLER & RORVIK, 2001). Apesar destes aminoácidos não serem considerados a principal fonte de energia para o processo de contração muscular, sabe-se que estes atuam como importante fonte de energia muscular durante o estresse metabólico. Neste contexto, estudos têm mostrado que nestas situações a administração de BCAAs, particularmente a leucina, poderia estimular a síntese protéica e diminuir o catabolismo protéico muscular (BLOMSTRAND & SALTIN, 2001). Além dos possíveis efeitos ergogênicos no metabolismo protéico muscular, outros têm sido sugeridos: retardar a ocorrência de fadiga central (NEWSHOLME & BLOMSTRAND, 2006), aumentar o rendimento esportivo (MADSEN et al 1996), poupar os estoques de glicogênio muscular e aumentar os níveis plasmáticos de glutamina após o exercício intenso (BLOMSTRAND & SALTIN, 2001).
BCAA e síntese protéica muscular
Estudos com suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada demonstram que essa estratégia nutricional pode ser efetiva na promoção do anabolismo protéico muscular e diminuição da lesão muscular pós-exercício. No processo de síntese protéica muscular, destaca-se, entre os aminoácidos de cadeia ramificada, a leucina, que induz a estimulação da fosforilação de proteínas envolvidas no processo de iniciação da tradução do RNA mensageiro, o que desse modo, contribui para a estimulação da síntese protéica (ROGERO & TIRAPEGUI, 2007).
Vale ressaltar que a administração oral de leucina produz um ligeiro e transitório aumento na concentração de insulina plasmática, fato este que também estimula a síntese protéica (ROGERO & TIRAPEGUI, 2007).
BCAA e fadiga central
A fadiga decorrente do exercício físico é um fenômeno complexo cujas causas parecem depender do tipo, intensidade e duração do exercício (FITTS, 1994). Para efeito de discussão, a fadiga pode ser definida como um conjunto de manifestações produzidas por trabalho ou exercício prolongado, que tem como conseqüência redução ou prejuízo na capacidade funcional de manter ou continuar o rendimento esperado (ROSSI & TIRAPEGUI, 2000). Na fadiga central, os mecanismos relacionados à ocorrência seriam a hipoglicemia e a alteração plasmática na concentração de aminoácidos de cadeia ramificada e triptofano (NEWSHOLME & BLOMSTRAND, 2006).
O triptofano é um aminoácido essencial, tanto para homens como animais. Entre suas diversas funções está a de precursor do neurotransmissor serotonina, o que influencia no sono, comportamento, fadiga, ingestão alimentar, entre outros. O triptofano pode ser encontrado na corrente sangüínea na forma livre (10%) ou ligado a proteínas transportadoras (90%). Em exercícios de longa duração, o organismo passa a utilizar os lipídeos como fonte de energia, fazendo assim com que o triptofano possa circular em grande quantidade na forma livre pela corrente sangüínea. Assim, quando a existe grande quantidade circulante deste aminoácido, possivelmente ocorre uma maior síntese do neurotransmissor serotonina, um dos grandes responsáveis pela ocorrência da fadiga central. A suplementação de BCAAs tem sido sugerida na hipótese de competir com o triptofano livre na corrente sangüínea, diminuindo assim a síntese de serotonina e consequentemente prevenindo a ocorrência de fadiga central (ROSSI & TIRAPEGUI, 2004).
Outras evidências
Não há evidencias de que a suplementação com BCAAs exerça efeito significativo sobre o rendimento físico e metabolismo de carboidratos, uma vez que os resultados dos estudos são conflitantes. Em contraste, foi verificado que a suplementação com BCAAs promove aumento significativo nos níveis plasmáticos de glutamina no período de recuperação (pós-exercício), uma vez que servem de substrato para a síntese deste aminoácido (BLOMSTRAND et al, 1995). Parece não haver necessidade para a ingestão de BCAAs, antes e durante o exercício, como estratégia para melhorar o desempenho esportivo. Contudo, a ingestão de aminoácidos, em particular de BCAAs, pode trazer benefícios de outra natureza, tais como a redução do catabolismo protéico durante o esforço e/ou durante a recuperação.
O uso de BCAAs é considerado ético. Os principais efeitos adversos relatados com o uso do suplemento, especificamente com altas doses, são: desconforto gastrintestinal, como diarréia, além de comprometer a absorção de outros aminoácidos (WILLIAMS, 1998).
Referências Bibliográficas
BLOMSTRAND, E. et al. Effect of branched-chain amino acid and carbohydrate supplementation on the exercise-induced change in plasma and muscle concentration of amino acids in human subjects. Acta Physiologica Scandinavica, v.153, p.87-96, 1995.
BLOMSTRAND, E.; SALTIN, B. BCAA intake affects protein metabolism in muscle after but not during exercise in humans. American Journal of Physiology – Endocrinology and Metabolism, v.281, n.2, p.E365-E374, 2001.
FITTS, R.H. . Physiological Reviews, v.74, n.1, p.49-94, 1994.
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ROSSI, L.; TIRAPEGUI, J.O. Implicações do sistema serotoninérgico no exercício físico. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v.48, n.2, p.227-233, 2004.
WILLIAMS, M.H. The ergogenic edge: pushing the limits of sports performance. Human Kinetics, 1998.